EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

3 de abril de 2008

Para sempre

"A Primeira Palavra que em toda a minha Vida me esgotou o Ser.
Disse-a.
Amo-te - uma palavra breve.
Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida.
E ouvi. E pensei. Tudo se desfez.
Palavras sem inteira significação em si, o professor devia ter razão. Palavras que remetiam umas para as outras e se encostavam umas às outras para se agüentarem na sua rede aérea de sons.
Mas houve uma palavra - meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vísceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total. Todas as outras palavras estavam a mais e dispensavam-se e eram uma articulação ridícula de sons e mobilizavam apenas a parte mecânica de mim, a parte frágil e vã. Palavra absoluta no entendimento profundo do meu olhar no teu, palavra infinita como o verbo divino.
Recordo-a agora - onde está? Como se desfez?
Ou não desfez, mas se alterou e resfriou e absorveu apenas a fração de mim onde estava a ternura triste, o conforto humilde, a compaixão. Não haverá então uma palavra que perdure e me exprima todo para a vida inteira? E não deixe de mim um recanto oculto que não venha à sua chamada e vibre nela desde os mais finos filamentos de si?
Uma palavra.
Recupero-a agora na minha imaginação doente.
Amo-te.
Na intimidade exclusiva e ciumenta do nosso olhar mútuo e encantado. Fecha-nos o lençol na claridade difusa do amanhecer, estás perto de mim no intocável da tua doçura.
Frágil de névoa.
Fímbria de sorriso e de receio, de pavor, no meu olhar embevecido.
Uma palavra.
A primeira que em toda a minha vida me esgotou o ser.
A que foi tão completa e absorvente, que tudo o mais foi um excesso na criação.
Deus esgotou em mim, na minha boca, todo o prodígio do seu poder.
Ao princípio era a palavra.
Eu a soube.
E nada mais houve depois dela. "

Vergílio Ferreira, in 'Para Sempre'


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