EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

2 de abril de 2008

...minha alma


Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro para minha alma.
Quando a minha língua fala, o meu ouvido estranha-lhe a voz.
Quando o meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, o meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e a minha alma interroga a minha alma.
Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo.
Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que a minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que as minhas profundezas não reconhecem.
Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insectos.
Se sair à luz, a sombra de meu corpo segue-me, e as sombras da minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo.
E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.
Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis.
À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos.
E almas de nações esquecidas fitam-me.
Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso.
Quando procuro segurá-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos,
e em versos o que a vida põe em prosa.
Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.

Khalil Gibran

Nenhum comentário:

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

Musica em minha vida para tocar a tua!

"A vida:... uma aventura obscena de tão lúcida..." Hilda Hist

"És um dos deuses mais lindos...Tempo tempo tempo tempo..." Caetano Veloso

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo
RAINHA VICTORIA CATHARINA

"De seguir o viajante pousou no telhado, exausta, a lua." Yeda P. Bernis

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos" Fernando Veríssimo

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."