EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

31 de outubro de 2008

Meu sertão

Imagens Para Orkut-Adianta querer saber muita coisa? O senhor sabia, lá para cima - me disseram. Mas, de repente chegou neste sertão, viu tudo diverso diferente, o que nunca tinha visto. Sabença aprendida não adiantou para nada... Serviu algum?

Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difí­cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

Guimarães Rosa

30 de outubro de 2008

Opinião real e sincera de um submisso:

Não é algo que a gente faz e bate nos peitos! Também não se pode comentar com parentes sem embaraço, com amigos mais chegados pode ser ainda pior, não acho nada fácil falar dessas coisas. Gostar de chicote? Desejar estar algemado? Às vezes é melhor se calar do que se abrir com estranhos. Por que são coisas que não se faz por que se gosta ou se quer.

É ALGO que se faz por que é preciso, por que não dá para evitar, procrastinar... É um anseio que te controla e domina. Isso é a submissão masculina, uma pitadinha de solidão, culpa e arrependimento.

A submissão masculina, tão natural para mim hoje, me perseguiu e me fez sofrer por 15 anos. Sem contar com a minha adolescência, que considero fracassada ou perdida. Nunca pensei que fosse algo saudável ou natural. Procurei reprimir com todas as forças. Mas aprendi a não me considerar um louco e me aceitar. Foram anos de agonia até saber que não estava só. Que havia gente que gosta de gente como eu! Hoje sou uma pessoa feliz que quer experimentar mais, evoluir e encontrar a pessoa certa. Talvez já a tenha encontrado, mas de qualquer forma enquanto tudo isso não se resolve estou disponível para me divertir com as pessoas "erradas" por que já sofri por demais, a vida é curta e a gente morre no final.

1) A CONFIABILIDADE

Uma característica tão fundamental assim deve ser citada na frente das demais. Se seu homem não for confiável, seu romance não dá pé... Mas como ter certeza do caráter dele? Ou da inocência das suas intenções? Lembre-se que assim como o respeito, a confiança também deve ser conquistada em um processo lento e longo. E tem mais, a confiança deve ser mútua, não há outro caminho. Afirmo: Se em qualquer relação a confiança é imprescindível, nos relacionamentos BDSM a confiança do homem na mulher deve ser total. A recíproca também é verdadeira. Meus caros leitores, de agora em diante chamarei os homens de submissos, pois como acredito que esta seja sua verdadeira aptidão e também não há nenhuma forma de ofensa neste tratamento, não vejo forma melhor de me referir a eles. Só um submisso assumido pode ser feliz! Penso que um submisso somente atinge a plenitude do seu indivíduo quando deixa de ser homem e passa a pertencer, de corpo e alma, à mulher dominante. É lindo quando ele confia nela totalmente, depois se rende e finalmente se entrega. O submisso só cresce quando ela o toma, maltrata e escraviza. Apenas assim o submisso se sente realizado. Como afirmei, sem confiança não dá mesmo, um submisso decente deve confiar inteiramente na sua dona. Deve se colocar nas suas mãos ou sob seus pés. Deveria contar tudo para sua mulher, inclusive seus pensamentos mais íntimos e inconfessáveis. Mesmo quando os pensamentos poderiam prejudicá-lo, ainda assim ele deveria contar tudo. Não deve haver segredos. O submisso deveria ter sensibilidade para saber o momento de agir, calar ou de falar. Os submissos deveriam saber que as opiniões, percepções, sensações e ações das suas respectivas donas estão e estarão sempre corretas! Deveriam entender que sendo propriedade de uma grande mulher, não precisariam se preocupar com mais nada, pois estão sendo bem assistidos, vigiados e treinados. Não deveria haver medo e nenhuma hesitação da parte dos submissos, nem questionamentos, apenas subserviência. Por sua vez, as mulheres devem se impor continuamente. Elas devem mostrar, sempre que puderem, que eles podem e devem confiar. De vez em quando podem elogiar seu submisso. Isto ajuda no processo. Com o passar do tempo, as mulheres também deveriam confiar nos seus submissos. Cuidado: Todos dizem que são confiáveis no início, logo, preste bastante atenção nos detalhes, nas atitudes. O tempo é o melhor amigo da mulher. Dê liberdade e observe o que acontece. Fique vigilante, confie desconfiando, discretamente, fique sempre atenta. Um submisso que confia na sua dona usa cinto de castidade 24/7 e sempre deixa as chaves com ela. Um homem só se torna um submisso confiável quando abdica da sua liberdade, perde parte da sua masculinidade e abdica do seu orgasmo. Capturar a libido do seu submisso é a chave do sucesso. Ex.: Sugira um teste, um joguinho de fim de semana. Coloque uma venda em seus olhos. Deixe-o ficar sem enxergar por muito tempo. Quanto mais tempo melhor, mas acho que quatro horas consecutivas serão suficientes. Neste ponto desconfie, não vacile! Enquanto ele estiver vendado, mantenha as mãos do submisso para trás, não deixe chance para ele trapacear; Quando o submisso ficar completamente cansado, perdido, desorientado no escuro, implorando para parar, já deverá estar quase no ponto da surra! Seja dura neste momento, peça para ele agüentar mais um pouquinho. Canse o "peixe". Diga que você está se divertindo muito com o jogo... Diga que ainda falta um pouco. Peça para ele ser forte e se submeter mais. Depois disso, bata nele para valer, use um chicote, correia, chinelo ou palmatória. Deixe belas marcas, mas depois acaricie, esfregue gelo, beije a carne castigada. Mostre compaixão. Ainda vendado, o guie em um ambiente fechado. Alimente-o, mate a sua sede. Deixe-o confortável. Se for necessário o ajude a fazer suas necessidades. Mande-o executar tarefas bem simples, como carregar uma cadeira, encher um copo com água, lavar uma calcinha. Sua voz deve ser calma, mas confiante, firme. Leve-o até sua cama, deixe-o sentir teu cheiro, fazer coisas com você, provoque-o, amarre-o novamente, mas não transe com ele ainda, mantenha a cabeça fria, caso contrário você poderá estragar tudo. Não retire a venda dos olhos dele ainda. Neste ponto ele já deve ter se acostumado. O castigo serviu para distraí-lo. Mostrar que pode confiar em você. Pergunte como ele se sente vivendo nas trevas, desamparado, pergunte o que pensa. Escute, preste atenção. Faça perguntas abertas. Afirme que se ele ficasse cego não haveria problemas, pois você estaria ali para ajudá-lo, reforce a questão do compromisso e confiança. Depois disso você pode retirar a venda, beije-o, novamente pergunte o que ele está sentindo. Discuta as sensações com ele, mostre que você esteve sempre por perto. Converse muito com ele, então peça para ele por a venda novamente. Diga que você quer muito, diga que você entende seu sofrimento, angústia, mas desta vez você não tem idéia de quanto tempo ele ficará vendado. Veja o que ele faz. Se ele aceitar seu pedido sem hesitação, ótimo, parabéns. Você está no caminho certo, se você estiver disposta, transe com ele, pois é importante recompensá-lo. Se ele hesitar mas aceitar, vá com calma, ele precisa de mais treino. Se ele não aceitar, desista dele! Um submisso assina um papel em branco e deixa com sua dona, pois confia plenamente nela.

2) O ALTRUISMO:

Prejudicar-se, ceder, abdicar, sentir cansaço, frio, sede, fome, desespero, solidão e até dor para realizar um capricho da sua dona e sentir o prazer que seu sofrimento pode proporcionar. O submisso deve fazer tudo pelo conforto e bem estar da sua dona. Ele deve estar sempre pronto para se prejudicar ou sofrer por ela. Tenha em mente que um bom submisso deveria dar a vida dele pela vida da sua dona, sorrindo, rapidamente, sem reclamar, sem um segundo de hesitação. Os submissos verdadeiros acham uma honra fazer qualquer sacrifício pelas suas respectivas donas. Seja exigente, não se contente com pouco. Mostre que você é especial. Ex.: Peça para ele deixar de assistir a final do campeonato brasileiro de futebol para fazer as unhas dos seus pés ou fazer uma escova no teu cabelo... Ele deve ir trabalhar de ônibus e deixar o carro na garagem, abastecido, lavado e deixar seu cartão de crédito disponível para as compras. Deve deixar de comer doces, pois você está de dieta!

3) O DESPRENDIMENTO:

Você pode fazer tudo com ele, mudar seu estilo, penteado, nome, inverter os papéis e até trocar o sexo dele. Os submissos devem estar prontos para aceitar tudo. Deveriam ceder e se acostumar com sua posição inferior e se desprender da rotina, dinheiro, patrimônio e prazeres carnais. Os submissos devem saber que quem realmente manda e importa são as mulheres. Elas devem aproveitar, usufruir os prazeres da vida. Eles não, existem apenas para servir, sofrer, ajudar e proporcionar prazer, muito prazer nas suas respectivas donas. Os submissos são meros coadjuvantes. Mostre como você pode dominar a mente e o corpo do seu submisso. Um cinto de castidade em regime 24/7 pode ser um começo. Faça uma viajem para a serra, trate e o use como poney. Sele, Monte e cavalgue no seu submisso. Observe se ele te obedece adequadamente. O desprendimento só pode ser observado por fatos concretos, falar que é arrebatado não vale.

4) A ENTREGA:

Eles devem se entregar ao seu fetiche, seu charme e a força da sua sedução. A rendição deve ser total, isto é, física, emocional e mental. Ele deve depender financeiramente, emocionalmente e psicologicamente de você. Não deve conseguir ficar mais de cinco minutos sem pensar em ti. Aos poucos você deveria viciar seu submisso no seu corpo, no seu cheiro, no seu gosto, no seu consolo. Os submissos que praticam inversão com suas donas estão no caminho correto, pois se entregam. Eles devem sonhar com elas todas as noites dentro de si e as desejarem incessantemente. A libido dos submissos deve ser cuidadosamente moldada, monitorada e controlada. O sentimento de entrega é maravilhoso, por isto toda masturbação deve ser negada, pois é um ato de prazer egoísta. Os orgasmos também devem ser limitados ao máximo, se permitir que algum aconteça, deve ser sempre na tua presença, com seu consentimento, para seu deleite. Deixe isto muito claro para ele. Faça-o acreditar nisto. Os orgasmos não autorizados deveriam ser punidos exemplarmente, pois afastam teus submissos da pureza da entrega. Os homens mais felizes são os submissos castos que se entregam espontaneamente. O regime de castidade forçada é para o próprio bem deles. Deixe-os gozar livremente na estimulação anal, para fins medicinais, mas não retire o cinto de castidade. Faça-os admirar seus pés e apreciar o privilégio de praticar sexo oral com você. Não existe entrega sem amor, sem paixão. Ex. Para testar o seu nível de entrega, submeta-o a castidade forçada, PA, KTB ou outro dispositivo radical de controle sexual. Faça com que ele viva em regime de castidade absoluta. Faça um contrato, convença-o a assinar, tire fotos comprometedoras. Ameace-o (só de brincadeira, mas deixe-o em dúvida) para valer. Dependendo da reação dele você saberá se ele realmente se entregou ao teu poder. Cuidado! Você é responsável por tudo àquilo que cativas.

5) A DEDICAÇÃO:

Todos os submissos devem ser extremamente atenciosos, carinhosos, generosos, zelosos em todas as atitudes, principalmente quando estiverem fora da cama ou longe de casa. Eles devem ceder sua vez, abrir portas, dizer obrigado, por favor ou desculpe-me senhora. O submisso deve acender seu cigarro, deve ser prendado, levar teu café na cama com um sorriso ou fazer a unha dos teus pés... Durante o período de menstruação das suas donas, os submissos devem ficar atentos e ter em mãos uma bolsa de água quente, chá e uma cartela de Ponstan. A dedicação do submisso é máxima nesses períodos. Eles não devem deixar de praticar sexo oral em hipótese alguma, mesmo quando ela está menstruada ou chega suada da ginástica. Eles devem velar o sono das suas donas quando estão com febre ou doentes e dormir com uma de suas calcinhas usadas enfiada na boca. Para enfatizar a dedicação, eles devem lavar a roupa íntima das suas donas à mão, passá-las com todo carinho. Observe a dedicação do submisso quando ele faz suas atividades. Claro, também devem cuidar da casa, do carro, da louça, da faxina e preparar os melhores pratos para suas respectivas donas. A dedicação do escravo pode ser medida pela sua dedicação ao lar, o escravo deve ser prendado. Eles devem promover banhos de língua, pedicure, manicure e massagem. Enfim ele deve te amar! Ex.: Pensar nela 24horas do dia, mesmo sonhando. Mandar flores e outros mimos regularmente. Escrever cartões. Ligar para saber se está tudo bem. Colocar o cinto de castidade nas viagens de negócio.

6) A RESISTÊNCIA:

Tolerância a castigos, surras, dor, choques na intensidade e duração determinada por você. Só no caso das sádicas.Todo submisso tem um pouco masoquista e a mulher deve tirar proveito da situação, maximizando este sentimento, exigindo sacrifícios cada vez maiores. Ex. Você pode forçar seu submisso a usar um corpete e apertar lentamente sua cintura a cada três dias. Você pode aumentar os períodos de castidade forçada constantemente. Lembre-se que mesmo os submissos mais resistentes podem se machucar. Você pode bater com força, mas deve cuidar bem dele. Não se esqueça que você é responsável por seu submisso, pois ele é sua propriedade, logo você é a única responsável pelo seu bem estar em uma sessão. Dor ou prazer é questão de intensidade versus duração.

7) O RESPEITO:

Ter atitudes dignas e respeitáveis com você, seus amigos e sua família. Ele deve preservar sua imagem a todo custo. Preocupar-se com os modos e a forma de tratamento em público e em particular. Respeito vem de cima, respeite-o para ser respeitada por ele. Mas isto não significa que você não possa humilhá-lo, tratá-lo no diminutivo, como um animal, objeto, mulher ou criança. Você pode negar tudo, bater de chicote de couro, mas ele deve entender o motivo e concordar com a pena. Ex.: Bata na cara dele, mas pergunte se ele te ama de verdade. Você pode sodomizá-lo, mas tem que conversar antes. Você pode mordê-lo, mas deve conter suas lágrimas

Castro

Maravilhoso !!! João Ubaldo Ribeiro

computador homen cavernas


Ele Conseguiu

João Ubaldo Ribeiro

Quem me vê, aqui no Leblon, passando de bermudas com o ar meio aparvalhado de sempre, as bainhas das bermudas de sempre abaixo dos joelhos, as sandálias de sempre escorregando dos pés e o sorriso alvar de sempre com que respondo aos cumprimentos de desconhecidos, vai jurar que é o mesmo lunático inofensivo que costuma circular nas vizinhanças, indo comprar bolo de aipim na confeitaria ou ao boteco para arrostar as agressões à minha vascainidade temporariamente injuriada (apesar de já estar classificado, mas quem é vascaíno mesmo sabe a que quero referir-me) e certamente não desconfiará de nada. Passará até por perto de mim, sem ter a menor idéia de que, em meu cérebro tresvariado, reside um quase-homicida, a ponto de cometer não só um, mas vários tresloucados gestos. E, de fato, tenho saído muito mais que habitualmente para não começar a tresloucar à mínima provocação da parte dele, cuja convivência já não consigo suportar e cuja visão ameaça levar-me a crises convulsivas.

Sim, talvez algum de vocês já tenha adivinhado. É o computador, esta máquina demoníaca com a qual somos cada vez mais obrigados a conviver e que, na exatíssima descrição de um amigo meu, é dividida em duas partes principais: o hardware e o software. O software é a parte que você xinga e o hardware é a parte que você chuta. Até umas duas semanas atrás, apesar de rudes golpes e embates, eu terminava ganhando, ou pelo menos obtendo razoáveis condições de sobrevivência. Agora, porém, me vejo derrotado, arrasado, devastado e - tenho certeza - observado com desdém sádico e sarcástico por este monitor que sou obrigado a fitar de olhos injetados. Ele finalmente ganhou. Eu não deixava que ele pegasse vírus ou qualquer outra afecção, dedicava a seu caráter solerte e traiçoeiro a mais vigilante das atenções, mas desta vez ele achou um jeito de ganhar, aplicando-me um simples golpe mecânico.

Tento amenizar meu sentimento de revolta e humilhação raciocinando que ele veio para ficar e ou nos habituamos a ele ou nos fossilizamos em questão de semanas. Lembro os tempos heróicos em que, para escrever um livro, eu tinha de catamilhografar minha pobre literatura usando um abominável papel-carbono que produzia uma cópia que eu jamais emendava, mas guardava por questão de segurança, revendo resmas de laudas amarfanhadas, passando a limpo (a sujo, na realidade, porque as emendas a caneta posteriores eram inevitáveis) tudo e encaminhando o resultado a uma datilógrafa profissional, que produzisse originais apresentáveis. Depois, revia os erros que a datilógrafa também cometia, entre frasquinhos de substâncias malcheirosas, colas viscosas, fitas adesivas, tesouras e equipamentos esotéricos que algum amigo sempre trazia da Alemanha e que acabavam se revelando instrumentos de tortura. E, enfim, depois dessa bodosíssima odisséia, entregava os originais à editora, que os mandava à gráfica, que fazia a composição em linotipo, que vinha com erros, que eram de novo emendados, que... Enfim, era uma mixórdia infernal, de que o computador nos livrou para sempre.

Livrou, sim, mas com a condição de que usássemos uma máquina cuja manutenção dá mais trabalho do que, como já disse aqui, manter e administrar seis famílias. Revejo esta estimativa agora. Não seis famílias, mas pelo menos umas oito a dez. Em verdade lhes digo, para que o computador funcione cem por cento (cem por cento, não, porque isso é uma utopia, mas uns 80 a 90 por cento, porque sempre há alguma coisinha que requer um acerto nem sempre adiável), é preciso que se dedique a ele pelo menos o dobro do tempo que se dedica ao trabalho propriamente dito. Duvido que o mais fanático dos proprietários ou colecionadores de automóveis tenha mais trabalho do que um pobre usuário de computador.

Quem usa sabe, não tenho o que explicar. Quem não usa não seria capaz de avaliar o que significa trabalhar em regime de permanente suspense, ameaçado por interrupções e anúncios sinistros, além de acusações infundadas, tais como a de que o pobre escrevinhador acaba de cometer uma operação ilegal e o programa será fechado. Isso é o mínimo. O meu mente de forma desavergonhada e alardeia a ocorrência de catástrofes que jamais se materializam e, quando se materializam, só são realmente solucionáveis por uma comissão de técnicos ensandecidos, que falam uma língua incompreensível pelo resto da Humanidade e declaram tudo obsoleto, inadequado ou, para usar uma palavra de que cada vez gostam mais e só é empregada com maior freqüência em relação à vida pública nacional, corrompido. O que você aprendeu ontem não serve mais para hoje e o que você instalou ontem se recusa a comunicar-se, ou sequer coexistir, com o que você teve de instalar hoje. Conheço vários mártires companheiros de sofrimento, como, por exemplo, o equilibradíssimo colega e amigo Zuenir Ventura, que, como eu, alterna momentos em que quer atirar o computador pela janela ou atirar-se ele mesmo pela janela.

Mas eu ia resistindo, pagando o preço da eterna vigilância. Era, de certa forma, um vitorioso. Hoje, porém, não. Ele vinha dando sinais de que a rebelião final chegaria, mas eu não ligava. Afinal, não havia vírus, não havia descuido quanto a nada. Até que chegou o dia em que, sem mais um aviso a não ser de que havia um erro no disco, ele travou de vez e não voltou a dar sinal de vida. Mudei o disco e perdi tudo. É como se uma biblioteca tivesse pegado fogo. Desarvorado, não sei mais o que escrevi, como escrevi ou a quem escrevi. Dirão vocês que se deu bem a literatura brasileira, pois nunca mais haverá um livro de crônicas minhas, talvez livro nenhum. Nem haverá um eu, possivelmente. Sim, porque enquanto arrasto os pés por aí com a cara apalermada, sei que ele ganhou e agora está apagando os meus últimos neurônios. Se, na próxima semana, eu não aparecer, vocês já sabem: fui deletado.


computador homen das cavernas

29 de outubro de 2008

Dia Nacional do Livro

folheando livro 9

"Oh! Bendito o que semeia Livros ... livros à mão cheia ... E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma É germe – que faz a palma, É chuva – que faz o mar."

Castro Alves

"Um livro é um pássaro com mais de cem asas para voar"

Ramon Gomez de la Serna

28 de outubro de 2008

Feliz !!!

Atrevida

Estou mais atrevida
Mordaz e ferina
Estou cheia de vida
Sagaz e ladina
Já não sou mais a mesma
Respiro outros ares
Navego outros mares
São tantos olhares
Convites, sorrisos
Eu gosto eu preciso.


Pois é...
Que ficou impossível não ver
Mudei de você
Por isso me esqueça
Virei a cabeça
Nas noites mal dormidas
Rezava seu nome
Olhava na janela
Chorava seu nome
Mexia em sua roupa
Gemia seu nome
Morria de sede
Subia as paredes
Me amava sozinha
Você não me vinha.

Pois é....
Que ficou impossível não ver
Mudei de você
Já não me inicia
Já não me arrepia
Estou mais atrevida
Tô cheia de vida
Você não me provoca
Nem quando me toca
Agora eu tenho
É fome de homem
Que seja feliz
Estou mais atrevida
Tô cheia de vida
Você não me provoca
Nem quando me toca
Agora eu tenho
É fome de homem
Que seja feliz.


Ivan Lins e Vitor Martins

27 de outubro de 2008

Estrelas



"Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas."


Oscar Wilde

21 de outubro de 2008

Eternidade !!!


Amanheci pra vida

De um sono profundo e sereno,
Imersa em sonhos já antes sonhados
Revolta em pesadelos agora vividos.
Mergulhada numa inércia profunda
Vegetando harmonicamente com tudo.
Desejando, sonhando, idealizando, sentindo...

Caminhei caminhos estranhos
Longos e às vezes conhecidos.
Trilhei veredas, prados e calmarias
Em que a alma repousa tranqüila.
Tirei pedras dessas estradas,
Com as mãos de artistas para não deixar pegadas.
Arranhei a alma, essa desconhecida
Para não deixar que o desejo me vencesse
Pro mundo não saber que nas entranhas,
Jazia o calor da alma, que mesmo estranha,
Sonha sonhos de uma vida
Talvez em outros tempos vivida.

E o corpo, que esconde a alma,
Estranha a estranha alma que domina o corpo.
Sente a sede de um amor conhecido,
Esquecido por ela, essa estranha,
Que já tem vivido antes
Sonhou tanto que se aquietou,
Numa aceitação insana,
Que faz do corpo uma prisão eterna,
Para a alma,
Que sendo estranha
Reaja ao seu cativeiro.
Queria romper fronteiras
Invadir espaços, e ganhar o eterno tempo
Criar novos rumos.
Acreditar em verdades novas,
Verdades surgidas das grades que a sufocam.
Alçar vôos por entre as grades
Buscar o sol que a fresta traz
Esquentando a alma, essa estranha
Que de tanto se esforçar, prá se esconder
Se mostra por inteira.

E agora, alma e corpo,
Embora estranhos,
Travam batalhas em suas entranhas
Que agora despertadas
Vão povoar os sonhos da noite que não termina...
Os poros reagem exalando um cheiro
Do amor sufocado.
E pelo quarto, no ar,
Sente-se um aroma
Agora desconhecido
Do corpo e da alma,
Que ainda estranha
Se afoga em prantos e se lamenta
Pelo corpo que a afugente buscando
Ser o que sempre queria,
O que surgiu na madrugada fria,
Trazida pelo despertar dos sonhos.

Agora quase no comando
O corpo domina a alma e se entrega
E se vê liberta de grades conhecidas,
Antigas e presas por raízes profundas.
Eleva-se ao estado da plenitude,
E atinge a outra alma, essa não estranha,
Que esperava por toda eternidade
Por aquela que agora conhecida,
E aconchega, e traz consigo
O amor que atravessou o tempo.
Venceu barreiras
Navegou pelos mares do infinito,
E encontrou abrigo junto à ela...

A alma dessa estranha, que vivia e
sonhava, enquanto na agonia esperava.
Por esse encontro
Que se não se der no agora
Terá ainda a ausência do tempo
A eternidade infinita pra se encontrar.

E então, essas almas
Juntas
Irão se completar
Até que a eternidade acabe....

Norma Andrade

14 de outubro de 2008

Leiam com muita atenção:

Em algum momento ela aparece, e não há como fugir. Morar sozinha é ter de matar a própria barata. Esse era um dos pavores de Alessandra Bourdot, uma das entrevistadas do meu livro. Ela narra um de seus encontros com a intrusa: “Apareceu uma barata no banheiro. Eu estava tomando banho, ela entrou, eu saí. Eu estava com xampu na cabeça e, para me acalmar, repetia em pensamento: ‘É um besouro, é um besouro’. Fechei a porta, entupi o banheiro de veneno e ela ficou lá até o dia seguinte porque meu vizinho, que me ajuda nessas horas, não estava. No dia seguinte, ele foi remover o ‘cadáver’. Mas ela passou a noite inteira ali, me assombrando. Foi horrível!”, diz. Eu também tenho medo. É o único bicho que mato, por razões óbvias. O assunto é nojentinho, mas tem motivo para virar post: descobri, há pouco tempo, que a melhor coisa para matar barata não é chinelo nem veneno. É spray de secar esmalte de unhas! Mais eficiente porque paralisa a intrusa. Evita quela correria para debaixo da mesa, da cadeira. E você, tem pavor de barata? Tem pena? Como enfrenta La Cucaracha?


Rosane Queiroz

11 de outubro de 2008

Minha alma...

Imagens Para Orkut

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa

9 de outubro de 2008

Desculpa-me

Imagens Para Orkut


Desculpa...

By Ana Carolina

Te olho nos olhos e você reclama...
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi muito

profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.

Até onde posso ir para te resgatar?

Reclama de mim, como se houvesse possibilidade...
De me inventar de novo.

Desculpa...
Desculpa se te olho profundamente,

rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.

A ponto de ver a estrada...
Onde ficam seus passos.

Eu não vou separar minhas vitórias
Dos meus fracassos!

Eu não vou renunciar a mim;

Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar vivo e permanecer
Te olhando profundamente.

8 de outubro de 2008

Como as mulheres dominaram o mundo

Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.
-Foi assim que tudo aconteceu, meu filho...
Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira.
Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.
-E aí, papai?
-Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite", eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "O regime".
-E vocês? Não perceberam nada?
-Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior:
Continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem.
-Aí, veio o golpe mundial?!?
-Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente...
-Como era mesmo o nome dele?
-William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo...
-Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue...
-Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome de Madonna para Mandona...
-Pai, conta mais...
-Bem filho... O resto você já sabe.Instituíram o Robô "Troca-Pneu" como equipamento obrigatório de todos os carros...A Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho...E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...
-TPM???
-Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... E quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear...
-Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...
-Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...



Luis Fernando Verissímo

Quem sou eu ???

Quem sou eu?? Quando não temos nada de prático nos atazanando a vida, a preocupação passa a ser existencial. Pouco importa de onde viemos e para onde vamos, mas quem somos é crucial descobrir.

A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui.

Eu sou outono, disparado. E ligeiramente primavera. Estações transitórias.

Sou Woody Allen. Sou Lenny Kravitz. Sou Marilia Gabriela. Sou Nelson Motta. Sou Nick Hornby. Sou Ivan Lessa. Sou Saramago.

Sou pães, queijos e vinhos, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou metrópole.

Sou bala azedinha. Sou coca-cola. Sou salada caprese. Sou camarão à baiana. Sou filé com fritas. Sou morango com sorvete de creme. Sou linguado com molho de limão. Sou cachorro-quente só com mostarda e queijo ralado. Do churrasco, sou o pão com alho.

Sou livros. Discos. Dicionários. Sou guias de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou Internet. Já fui muito tevê, hoje só um pouco GNT. Rádio. Rock. Lounge. Cinema. Cinema. Cinema. Teatro.

Sou azul. Sou colorada. Sou cabelo liso. Sou jeans. Sou balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou avião. Sou jeep. Sou bicicleta. Sou à pé.

Você está fazendo sua lista? Tô esperando.

Sou tapetes e panos. Sou abajur. Sou banho tinindo. Hidratantes. Não sou musculação, mas finjo que sou três vezes por semana. Sou mar. Não sou areia. Sou Londres. Rio. Porto Alegre.

Sou mais cama que mesa, mais dia que noite, mais flor que fruta, mais salgado que doce, mais música que silêncio, mais pizza que banquete, mais champanhe que caipirinha. Sou esmalte fraquinho. Sou cara lavada. Sou Gisele. Sou delírio. Sou eu mesma.

Agora é sua vez.



4 de outubro de 2008

Menina Moça !!!

Menina Moça

Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verboTo love,
mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher.


Machado de Assis

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

Musica em minha vida para tocar a tua!

"A vida:... uma aventura obscena de tão lúcida..." Hilda Hist

"És um dos deuses mais lindos...Tempo tempo tempo tempo..." Caetano Veloso

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo
RAINHA VICTORIA CATHARINA

"De seguir o viajante pousou no telhado, exausta, a lua." Yeda P. Bernis

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos" Fernando Veríssimo

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."