EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

17 de junho de 2008

Uma Rainha Triste


Vem. Imagina-te no centro de todas as viagens.
Traz o perfume de outras eras, dos dias felizes em que fomos
alguma coisa mais. Talvez crianças breves, pássaros
feridos por um amor com sede de infinito.
Lembra-me os invernos, os outonos com sabor a erva
e a folhas gastas pelo tempo. E abre-me as janelas
que me fechaste um dia. E deixa-me entrar como uma brisa
em busca dos teus olhos, soprando nos teus cabelos.

Mas vem. Cobre-te de névoa..
Veste o céu azul
e os prados verdes. E sorri, no silêncio possível do reencontro.
Deixa-te cair...leve, nas asas do vento,
como uma pétala de rosa sem destino,
uma bola mágica de sabão
refletindo sonhos no espaço. E aconchega-te dentro de mim...

Mas vem, anjo de transparências...
fruto exótico das minhas miragens. Vem. Traz a pureza
dos campos, o som das ribeiras correndo pelas encostas,
o murmúrio da noite de encontro às madrugadas...

Vem, apenas.
Como se o mundo acabasse a cada passo que dás em busca do meu sonho.
E depoisnão houvesse mais nada. Só tu e eu, enlaçados em viagem,
sobrevoando todos os horizontes. ..

Mas vem. Vem. Vem sem perguntares pelo amanhã,
pelos abismos que se abrem nas fronteiras dos nossos corpos.
Vem apenas. Com a lucidez dos espelhos e a espuma
inquieta do mar, batendo no calhau da praia.

Vem, docemente, como um papagaio de papel-de-seda
em tardes de vento brando. E fala-me de fadas, de castelos,
de rios mansos, onde alguma vez pudemos navegar.
Mas diz-me coisas sobre as árvores e as casas. Ou leva-me
contigo, como se fossemos apenas aves e voássemos com
o mesmo bater de asas. Vem, ou deixa-me morrer
com a tua lembrança numa manhã cinzenta,
com as gaivotas gritando no cais
e os vagabundos repartindo o seu sono
com os meus pesadelos. Mas vem,
como se partisses para sempre
e me esquecesses
nas tempestades das invernias desta ilha
algures perdida no tempo.
Vem....

José António Gonçalves

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"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

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"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

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