EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

22 de julho de 2008

Era uma vez... Terceiro capítulo

Meu elefante:

Gatos, cães, periquitos, papagaios, micos (Leontopithecus Callitrichidae), sagüis (callitrix jaccus), cágados (trachemys scripta elegans), peixes, coelhos foram-me oferecidos como meu provável animal de estimação por minha família... às vezes chegávamos a ter vários bichinhos ao mesmo tempo, sempre os tratei muito bem, com todo carinho e muito respeito, mas sem nenhuma empolgação que seria própria da idade... O grande e pesado problema para meus pais, tios, tias, primos, primas, madrinhas, padrinhos, professores e professoras e minha adorada avó seria a abissal tarefa de arrancar da minha cabeça a idéia fixa de possuir um elefante como animal de estimação. Queria um elefante e pronto... não um elefante qualquer do tipo 1.0, mas um ELEFANTE (loxodonta africana) enorme (como se um elefante pudesse ser menos que enorme para quem mora em uma grande capital do pais) daqueles com presas de marfim completamente equipado digo paramentado com um modelito indiano repleto de ouro, sedas e pedras preciosas.

Queria tê-lo para passear com ele, sair de tardezinha para comer aracajé, tomar água de coco, leva-lo para veranear em Itapuan, desfilar na Lavagem do Bonfim, sair nos Filhos de Gandhi (bloco estilo afoxé que nunca admitiu a presença feminina) juntamente com as bahianas, dar uma voltinha na Festa de Yemanja, apreciar a lua cheia na lagoa do Abaeté, comer lambreta (molusco bivalve) no Mercado Modelo e fazer tudo de mais básico que todo bahiano faz nesta vida.Lógico que acompanhada com minha família principalmente de meu pai e minha avó... sabia que minha mãe estaria a quilômetros de distância de uma farra dessas (rissss) ela é discretíssima odeia qualquer coisa que seja chamativa imagine só ela com meu ELEFANTE (rissss)... além disso, ela era a única que se comportava explicitamente contraria a minha idéia de possuir um ELEFANTE achando um absurdo tal desejo, assim como duvidando da sanidade mental de todos aqueles que me apoiavam, dando-me a esperança de um dia... um dia... quem sabe quando... presentear-me com um real e verdadeiro ELEFANTE (rissss).

Todos os demais membros da família enredavam-me com historias e estórias e simplesmente o tempo ia passando e eles imaginando que eu havia esquecido... quando menos esperavam dava início meus apelos e solicitações... todos me acudiam com as desculpas mais esfarrapas do mundo... entretanto não escutava claramente um sonoro e ríspido “NÃO”, muito pelo contrário sempre de forma carinhosa adiavam a chegada do meu “bichinho” e meu privilégio exclusivo de possuir um ELEFANTE...

Minha avó consolava-me postergando a data da entrega do “pacote” e com muita paciência contava-me onde ELE ficaria no quintal uma vez que era imenso e caso não fosse grande o suficiente poderia comprar um terreno ao lado de nossa casa com o a intenção de ampliar o ambiente para meu “bichinho” (rissss). Comentava quem cuidaria dele o que ele comeria, mas não mencionava o que faríamos com o côcô do meu “bichinho”. (rissss) Certa vez perguntei e minha avó sobre tais excrementos ela se viu completamente sem saída, quando minha madrinha acudiu afirmando com total competência e de forma veemente “Vamos vender... ora! servirá de adubo e deve valer uma verdadeira fortuna”. Lembro-me desse momento como se fosse hoje minha avó de pele alva e com as bochechas rubras uma vez que lhe fugiu uma resposta coesa e coerente recordo-me tbm de minha madrinha saltitante por resolver tamanho problema.

Como uma criança pode imaginar ser dona de um ELEFANTE ??? Pois é... analisando bem essa vontade incomum tenho certeza que essa aspiração começou quando vi pela primeira vez no carnaval bahiano o Afoxé Filhos de Gandhi (criado em 1949 por estivadores do cais de Salvador, praticantes do candomblé) que desfila pelas principais ruas de Salvador em homenagem do grandioso Mohandas Karamchand Gandhi... no desfile é apresentado em um carro alegórico um elefante branco empalhado. Comecei a participar do nosso carnaval conforme registro no meu álbum de fotografias exatamente com oito meses de nascida levada por minha família e nos braços de meu pai, todos nós éramos e somos fascinados pelos Filhos de Gandhi vê-los passar na avenida é um espetáculo fascinante em nome da paz. Todos os participantes vestem-se com uma fantasia feita com lençóis e um turbante confeccionado com toalhas brancas e colares de contas brancos e azuis simbolizando vestes
indianas transformando-se no “Grande tapete branco da paz” (são mais de 10 mil homens). Esta é a única explicação que tenho por tão esdrúxulo desejo.

O tempo foi passando e nada do meu ELEFANTE chegar, um belo dia o dono de um circo francês que andava de fato pelo mundo (pois não existiam franquias naquela época) sempre nos visitava quando chegava à Bahia ele era Maçom como meu pai e todos os meus tios. O Tio dono do circo era solenemente convidado por nossa família à jantar em nossa casa, convite esse desdobrado aos seus mais altos funcionários, todos nos adorávamos consecutivamente tornava-se uma grande e inesquecível festa... minha avó uma perfeita anfitriã dedicava-se por vários dias à cozinha, supervisionando o orgulho de todo bahiano, nossa culinária... confeccionando com toda perfeição e esmero todos os pratos típicos que nos eram conhecidos para serem regiamente proporcionados aos nossos convidados ilustres juntamente com nossas sobremesas.

Conhecedor de minha paixão por ELEFANTES o Tio sorria muito e contava-nos historias vivenciadas ao redor do mundo com um português misturado com espanhol e com um forte sotaque francês... trazia sempre presentes e nessa exata visita presenteou minha mãe com um belíssimo lenço de seda pura lindamente bordado com fios de ouro e a minha avó com uma toalha de mesa da Ilha da Madeira uma verdadeira preciosidade e a esta Moleca Lalaya uma caixa de cristal que continha um elefante com trajes tipicamente indiano com todos os adereços e acessórios pertinentes ao luxuoso animal que eu tanto sonhava. Meu ELEFANTE movia-se para frente e para trás bem como a tromba e o rabo por uma pequena manivela que rodávamos por baixo da caixa de cristal vulgarmente chamado por “corda”. Que felicidade... o quanto que fui feliz naqueles dias ostentando meu precioso ELEFANTE !!!

Após a imensa alegria minha sábia avó chamou-me, dizendo-me: "Minha filha você é uma linda mocinha irá transformar-se em uma linda mulher a solução para ter seu ELEFANTE verdadeiro é casar-se com um dono de circo e assim terá todos os ELEFANTES que você quiser"... fiz desse conselho uma premissa verdadeira... e jurei casar-me com um dono de circo, pois evitaria problemas para todos devido ao meu ENORME sonho.

Resultado, não me casei com um dono de circo, meu ELEFANTE da caixa de cristal encontra-se repousando e em perfeito estado estando guardado como uma verdadeira relíquia encontrando-se sob inteira responsabilidade de minha mãe que hoje respira aliviada (rissss). Nunca esqueci minha paixão por ELEFANTES que se encontra muito bem sustentada na intimidade do meu coração...
Hoje a minha maior vontade é ter uma alegre Baleia Jubarte (megaptera novaeangliae)... onde colocá-la??? em frente a minha casa tenho o oceano atlântico seguindo em linha reta à África (rissss)...

Sempre fui e sempre serei UMA RAINHA !!!

(continua)
















5 comentários:

Maestro Alex - BDSM - SSC disse...

só vc grande amiga
para
me fazer rir

Rainha Victoria Catharina disse...

Lindão,

Ter conseguido fazê-lo sorrir... meu querido amigo valeu a pena ter escrito as bobagens da minha infância... rissss

Beijos, "X"eiros e "X"amegos

Amar Yasmine disse...

Ahhhhh... Poderosa!

O que escrevestes não são bobagens, são as mais deliciosas lembranças da tua infância, que devem ser escritas assim sempre... com alegria e calor no coração.
Lindo texto, adoreiiiiiiiiiiii...

Esta imagem do elefante me faz lembrar de Cleópatra entrando em Roma na companhia do filho para apresentá-lo a Cesar... hehehe... e quando ela desce da liteira sobre o elefante e finalmente chega a frente de Cesar.... ai ai... adoro a cena... minha alma de sub flutua... ;-)

Doces besos, Poderosa Rainha!
*sorrindo*

Ácido Cloridrix HCL disse...

Olá, tudo bem??? Já agora convido-te a participares no nosso pequeno inquérito,,,, Estarás de acordo com o casamento ou adopção entre homossexuais??? Agradecemos a tua opinião, se a quiseres dar em: http://sexohumorprazer.blogspot.com/2008/07/inqurito-de-opinio-casamento-entre.html . Agradecimentos antecipados, HCL

cavaleiro.solitario.vc Capitão da Meia Noite disse...

Minha moleca Lalaya,
Conto a todos que namorei uma moça que tinha um sonho de ter um Elefante, espero de pronto um largo sorriso. Logo após afirmo que hoje ela quer uma Baleia Jubarte espero o espanto. Duvidas quanto a sua feliz maluquice (rsrsrs): SIM. Pergunto em sua defasa:”Vc é feliz?” meu ou meus interlocutores tomam um enorme susto com este questionamento pq não são felizes. Aplico o golpe final e fatal quando asseguro: “Lalaya é feliz muito feliz”. Percebo que mudam de conversa, trocam de assunto e mesmo nesse estranho dialogo de poder estando eu tão longe da Bahia, de Salvador de sua vida vc REINA MINHA ETERNA RAINHA.
Continue a escrever, vc é linda.
Bjs.Bjs.Bjs.Bjs
Bjs.Bjs.Bjs.Bjs
Bjs.Bjs.Bjs.Bjs
Bjs.Bjs.Bjs.Bjs

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

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Musica em minha vida para tocar a tua!

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"És um dos deuses mais lindos...Tempo tempo tempo tempo..." Caetano Veloso

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

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"De seguir o viajante pousou no telhado, exausta, a lua." Yeda P. Bernis

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos" Fernando Veríssimo

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."