EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

14 de julho de 2008

Era uma vez... Segundo capítulo

Brincadeiras de infância...


Desde a minha tenra infância era aficionada nos meus pés... para dormir era necessário que alguém estivesse fazendo carinho neles. Simplesmente não conseguia conciliar com o sono sem antes ter meus pés acarinhados. Contam-me que faziam turnos de revezamento... afinal de contas a casa estava feliz UMA RAINHA havia chegado após varias tentativas de meus pais em terem uma descendente, permaneci até hoje filha única, com todos os dengos, chamegos, cheiros e mimos que tinha direito, a prematura ganhava peso e crescia feliz em um lar harmonioso, cheio de luz, vida e muito amor.

Levaram-me um dia para a escola foi simplesmente perfeito... meninos, meninas, professoras, recreio, merenda e a chance de aprontar... (risss) Sabe-se muito bem que os semelhantes se atraem quando querem fazer e ousar coisas especiais principalmente em peripécias e pintanças aí sim mudamos nos tornamos solidários e nos transformamos em grupos ou vulgarmente conhecido por “THURMA” vamos dar título a essa convenção de meninos e meninas com o mesmo propósito, intuito e desígnio de “FORMAÇÃO DE BANDO OU QUADRILHA” no bom sentido é claro qualquer semelhança não é mera coincidência (risss). Vivíamos aprontando e literalmente reinando, incumbia-me ser o cérebro dessa organização.

Observei que a grande sacada era me ver livre daquela disciplina rígida da escola, porém muito bem burlada... estudava muito tirava a nota máxima e podia pintar o bastante, pois era a menina danada que era inteligente e tirava as melhores notas... sinceramente??? Não estava tão interessada em aprender ou ser o gênio da classe... era muito pouco para alguém que já era UMA RAINHA. Minha intenção e meu objetivo consistiam em estar rapidamente de férias e com o grande mérito de ser a melhor aluna... isso quebrava um galho!!! nossa. Os professores sempre apareciam em meu socorro... com o argumento: “Lalaya apronta horrores, mas é tão inteligente, estuda é educada e é tão bonitinha"... por favor, registrem esse adjetivo “bonitinha” que para nos bahianos significa “prima de feio”, "neta de horrosa" ou uma “feia arrumadinha”... Eu era horrorosa, pavorosa, medonha usava óculos, era zarolha, já que tinha “as ligações trocadas”, era gorda, usava botas ortopédicas, visto que minhas pernas eram tortas e aparelhos ortodônticos... imaginem!!! simmm e duas tranças que proporcionavam um trabalho infernal a minha mãe que vociferava com toda força de seus pulmões: “Lalayaaaaa as tranças estão tortas... que coisa feia vc não consegue ficar parada um segundo” a maior das verdades absolutas... eu não conseguia ficar quieta um único minuto. Meu pai do alto de sua eterna sabedoria exclamava com fervor: ”Deixem à menina... ela é assim mesmo... depois melhora”, minha avó tbm me acudia... “Deixa... deixa-me que faço as tranças de Lalaya”.

Com a chegada das esperadas e tão desejadas férias, íamos todos em comitiva para a fazenda de meu pai ou de algum tio com o conglomerado dos meus primos e primas onde nos encontrávamos e aí sim... colocávamos em ação os meus e os nossos planos espetaculares. Os coadjuvantes dos tais planos eram os tais primos e primas à protagonista por questões obvias cabia a esta RAINHA desenvolver. Brincávamos de reino... lógico eu era a RAINHA, minhas primas às princesas e meu primos muito bem-aventurados os escravos, cavaleiros com ou sem espadas, servos e súditos todos submetidos a minha vontade. Por questões de saber governar (riss) delegava poderes às meninas do grupo outorgando-lhe o direito de excutar as penas que seria infligida a qualquer dos escravos ou cavaleiros ou servos ou súditos que infringissem as regras ou por puro deleite ou prazer de todas nos ou exclusivamente meu. As meninas nunca erravam e se assim o fosse simplesmente se enganavam enquanto os meninos... estavam errados até quietos e calados.

Éramos crianças, mas já sabíamos quem madava e quem seria responsabilizado por algum erro. O que mais gostava era colocá-los todos deitados diante de meu “trono” e pisa-los como se fossem meros tapetes, logo atrás da RAINHA vinham às princesas e todas nos pisávamos nos escravos, súditos ou cavaleiros... havia tbm as bonecas de todos os tamanhos tipos e cores... seria o que se define hoje como uma ONG monárquica com base na convivência comunitária, mas matriarcal, já que nossas filhas as bonecas eram filhas de todas as meninas e os meninos os pais de todas as bonecas.

Minha Mãe costurou um manto vermelho e fez-me uma coroa de lata pintada de amarelo, as minhas tias tbm fizeram algo semelhante, mas não igual para minhas primas até cetro tínhamos.

Os meninos não tinham nada, não tinham direito a nada muito menos de reclamar pela expoliação que sofriam, eram explorados, oprimidos, humilhados na sua pseudo masculinidade. Mas eles adoravam... protegiam-nos, eram responsáveis de guardar todas as tralhas que brincávamos e tinham a função importante de dividir os alimentos sendo os últimos a merendar isso se sobrasse alguma coisa. Acumulavam tbm o encargo de subir nas árvores e pegar frutos, descasca-los e servi-nos, nossa “dispensa” era responsabilidade exclusiva deles mantida e supervisionada por eles que proviam nossa alimentação, e tbm possuíam o encargo de proporcionar em caráter de prevenção com muita cautela a nossa segurança. Aqui para nós... eles eram garbosos e preservavam um orgulho enorme por terem essas funções.

As minhas primas, as princesas amarravam os meninos que teriam que ser punidos em arvores e eram regiamente castigados ou por pequenos chicotes que nos mesmos confeccionávamos ou por galhos secos de arvores (que não proporcionavam marcas faziam cócegas isso sim) ou simplesmente os deixávamos amarrados para reflexão do que tinham feito de errado.Sei muito bem que o que vale mesmo é a intenção de mantermos ordem baseado na exposição publica de nossa autoridade unicamente feminina.

Mesmo assim pela manhã bem cedo quando o galo cantava estávamos todos prontos ávidos por brincar e mergulhar naquele mundo repleto de magia... aproveitávamos transbordando de felicidade desde o primeiro momento que chegávamos até o ultimo minuto antes de retornarmos as nossas individualizadas realidades cotidianas das escolas, cursos e demais responsabilidades inerentes a uma criança sendo preparada para a vida real.

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Hoje penso... como foi maravilhoso viver nesse mundo de fantasia.
Ninguém sabia nem tinha a menor ideia do que era BDSM ou SM ou D/S ou fetiche.
Repito reiteradamente, éramos crianças felizes brincando... e todos amavam brincar assim.
Não havia o emprego de violência nem de perversidade.
Nossas índoles não careciam de brutalidades ou crueldades.
Não brincávamos as escondidas.
Nossos pais sabiam de nossas brincadeiras.
Nada de anormal ou cruel era detectado... uma vez que todos nos tínhamos pais e mães atentos e uma avó preocupada e vigilante, assim como empregados que estavam sempre prestando muita atenção no que fazíamos.
Nossas brincadeiras não eram consideradas aberrações ou anormalidades.
Éramos uma monarquia baseada no matriarcado com uma rígida estratificação social, fundamentado na teoria geral do “dever-ser”.

(continua)

3 comentários:

Maestro Alex - BDSM - SSC disse...

Minha amiga... te conto um segredo... Este Dom aqui ainda aos 51 anos, ainda hoje e de pequeno, só consegue dormir esfregando um pé no outro...rs...
Com respeito ao resto das revelações, a natureza é BDSM, sempre tem um Dominante e um submisso, até no reino das pedras... Nascemos com tendências de Dominar ou de ser submisso... Só que muitas vezes não sabemos, continua contando, tua forma de descrever esta divertida e séria ao mesmo tempo...
Um abraço enorme e meu carinho
Alex

Rainha Frágil disse...

Sabe que eu também brincava de Rainha e escravo? E as mães proibiam os meninos de brincar comigo : /

E eu achava que todo mundo tinha brincado disso quando era criança. Achava normalíssimo, rs. Mas até hoje vc é a única que eu soube!

Bem que eu sabia que a gente tinha alguma coisa em comum... rs.

cavaleiro.solitario.vc Capitão da Meia Noite disse...

Minha moleca Lalaya,
Minha eterna Rainha,
Escreves com suavidade, carinho, bom gosto e explosão.
És vida pura vida.
Luz e energia.
O resultado primoroso de uma mulher perturbadora, intrigante, corajosa e avassaladora.
Amo-te
Amar-te-ei
Amar-te-ia

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

Musica em minha vida para tocar a tua!

"A vida:... uma aventura obscena de tão lúcida..." Hilda Hist

"És um dos deuses mais lindos...Tempo tempo tempo tempo..." Caetano Veloso

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo
RAINHA VICTORIA CATHARINA

"De seguir o viajante pousou no telhado, exausta, a lua." Yeda P. Bernis

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos" Fernando Veríssimo

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."