EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

31 de julho de 2009

Sade e Masoch... o grande encontro !!!

O Marquês de Sade faz uma reverência quase até o chão. Está recebendo Leopold von Sacher-Masoch para chá em sua residência.

- Meu caro von Masoch! Que honra recebê-lo em meu humilde chateau!

-Meu caríssimo Marquês. Enfim, nos encontramos!

- Deixe-me tirar esse pesado casaco de farpas que carregais sobre a pele.

- Pode deixar, eu gosto assim.

- Entrai, entrai.

von Masoch entra no salão principal e Põe-se a examinar a decoração.

- Que bela coleção de miniaturas! Oh, uma guilhotina de dedo. Funciona?

- Experimente.

Zupt!

- Charmat! – diz von Masoch, mostrando o toco do dedo decepado.


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- Querido von Masoch, por que nunca nos encontramos antes?

- Talvez porque não somos contemporâneos. Você é de quando?

- 1740 a 1814. Você?

- 1835 a 1895.

- Seria mesmo difícil. Mais razão para desfrutarmos este encontro fictício. Sente-se.Sente-se.

- Uma cadeira de pregos! Senhor Marquês!

- Mandei prepará-la especialmente para sua visita...

- A manisfestação mais alta do espírito humano é a hospitalidade.

- A fidalguia obriga.

- Retribuirei sofrendo, para o vosso deleite.

- Não esperava outra coisa de uma sensibilidade tão nobre.


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- A cadeira está suficientemente desconfortável, herr von Masoch?

- Sim. Perfeita. Obrigado.

- Como querei vosso chá?

- Fervendo.

O Marquês prepara-se para servir o chá, mas von Masoch recusa a xícara.

- Pode ser na mão mesmo.

O Marquês despeja chá fervendo na mão do visitante, que geme.

- Aaaahnnn... Obrigado. Está delicioso, De alguma forma, eu sabia que você seria o anfitrião perfeito.

- Posso oferecer, a seguir, canapés, éclairs ou chicotadas.

- Chicotadas, por favor.


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Sade e Masoch, finalmente juntos. De certa maneira, somos a dupla definitiva. Uma síntese humana, nos extremos da paixão. O prazer de dominar, o prazer de ser dominado. O êxtase de ser soberano, o êxtase de ser submisso. Pode-se dizer que a História da humanidade não passa de um minueto metafórico que dançamos juntos, através dos tempos.

- Essas chicotadas...são para agora?

- Somos o egoísmo humano na sua forma pura, além do bem e do mal. Somos a racionalização dos instintos, e a bestificação da razão. Chegamos à extrema lucidez do homem, que é reconhecer nas suas próprias taras o que tem de mais humano.

- Por favor . As chicotadas ...Eu as aceito.

- E o mais terrível. Somos os únicos seres sobre a terra que não podem viver sozinhos. Se Deus tivesse criado Masoch, teria que tirar sua costela para fazer de Sade. Sem anestesia, claro. O que quer dizer que também somos, à nossa maneira, símbolos da cooperação entre os homens.

- Senhor Marquês, não quero ser impertinente, mas...As chicotadas.


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- O sádico e o masoquista são os únicos seres genuinamente sociais da Criação, pois precisam um do outro. Eles não se bastam. Não se satisfazem sozinhos. Sem o outro não são nada.

- Quero as chicotadas agora!

- Não.

- O quê?

- Não vou chicoteá-lo.

- Mas...Sr.Marquês! É seu dever de anfitrião.

- Não.

- Eu quero ser chicoteado. Eu preciso ser chicoteado. Eu exijo ser chicoteado.

- No meu chateau, só chicoteio quem eu quero.

- Mas...Isto é sadismo! Da pior espécie!- Obrigado, obrigado.

E o Marquês faz outra mesura, quase até o chão.

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"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

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