EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

13 de junho de 2007

Renascer

Renascer


E tu a dizeres uma frase banal e eu a rir, não da frase mas de ti e de mim, e da cumplicidade que dava sentido a palavras sem sentido algum, que não o de estar junto, e rir, e ser feliz. E o café arrefecia na chávena esperando o fim do riso que não chegava, porque te encostavas a mim e pousavas a tua mão na minha, que eu fingia esquecida na mesa mas que só aguardava a tua, e os teus dedos subiam pelo meu braço e nele escreviam as horas futuras, e li, e aceitei horas e futuro, não afastando o braço, pousando a mão na tua, assinando contigo o compromisso que me escrevias na pele. E o café já frio na chávena, e o café cheio de gente que falava, e falava, e que não ouvíamos. Só das nossas bocas caladas ouvíamos as palavras, eu olhava os teus lábios e sabia o que não dizias, e tu lias as respostas na minha boca, e tocavas o meu corpo no pedaço de pele que apertavas na tua mão. E o empregado de balcão aceitando pedidos, e as pessoas saindo e entrando e olhando mesas, e ninguém nos via, porque o meu pé tinha tocado o teu, porque a minha perna tinha encontrado a tua, e éramos já caminho e passos. Não nos tocámos na rua, não trocámos palavras, só caminhámos juntos com passos que sabíamos, e tu sorrias para mim em sinais e passadeiras que tínhamos de atravessar, e eu sorria para ti na sombra das ruas que já não eram escuras, na sombra das árvores que baixavam ramos e soltavam folhas sobre nós, celebrando a união que era a nossa. E aceleraste os passos com pressa de chegar, e eu corri para te acompanhar e chegar contigo, e subir escadas, e abrir portas, a minha mão já na tua mão, a minha boca que já não aguentava esperas pedindo a tua. E fechámos a porta com as bocas coladas e as mãos suadas de desejo e pressa, e caímos no chão onde terminaram os passos, onde começaram os abraços, o meu corpo princípio e finalidade do teu, e murmurámos as palavras antes caladas selando o compromisso escrito na pele. E despi a razão, e despi o pudor, e despi a roupa, a tua e a minha, e quis ficar nua como quem acaba de nascer, para que as tuas mãos me agarrassem, me recebessem, e me apertassem e guardassem no mundo que era o teu corpo. E dissolvi-me em ternura na tua descoberta, e apertei-te tremendo desfazendo-me nas tuas coxas... E renasci inteira nos teus olhos, e descobri-me, e descobri a vida, e o motivo de viver.


Encandescente

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"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

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"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

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