EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

7 de abril de 2009

Limiar entre Fantasia e Realidade

Limiar entre Fantasia e Realidade

By Vagalume_RD

Introdução

Sempre me considerei uma pessoa com personalidade forte, decidida e com o espírito de liderança. Nunca gostei que me dissessem o que fazer, preferindo na maior parte do tempo tomar a iniciativa, ser o pró-ativo do grupo, um agente de transformação.

Por isso, por muito tempo me intrigou o fato de eu me excitar sendo submisso e de ser atraído sexualmente pelos pés femininos, principalmente quando havia a relação entre pés e humilhação.

Como pode alguém com personalidade dominante na sociedade ser submisso sexualmente?

Esse questionamento me acompanhou silenciosamente por vários anos e com o tempo e o auto-conhecimento, me veio o insight de que, no meu caso, ser submisso sexualmente é como se eu tirasse uma folga de minhas responsabilidades diárias.

Ao dar o controle das decisões para uma outra pessoa, durante o ato sexual, contrastaria com a minha habitual forma de ser, e a meu ver, esse contraste de alguma forma seria o estopim do despertar da minha libido.

Ao mesmo tempo em que eu buscava uma resposta pelo caminho do contraste, eu separava muito bem o que era realidade de fantasia. Submissão para mim era vinculada ao ato sexual, se encaixava apenas no universo das fantasias, não fazendo parte da minha essência, que sempre foi libertária. Sempre gostei de fazer o que eu queria sem pedir autorização, de ter meu espaço aonde teria meus momentos de privacidade, e ao mesmo tempo, ser preso e dominado durante a relação sexual.

Por ver o BDSM como um tempero de uma relação, um desejo como tantos outros, uma forma de extravasar as tensões do dia a dia, uma fantasia bem separada da realidade, e o fato de isso ser tão óbvio para mim, me faz ficar intrigado com o fato de que nem todos pensam como eu, nem todos percebem o BDSM da mesma forma, sendo que em alguns casos há uma mixagem entre fantasia e realidade.

OWK

É este o tema central deste texto, e como sou fascinado pela Dominação Feminina, fui pesquisar a materialização do BDSM na vida real, lá no outro lado do mundo, no OWK, localizado no leste Europeu.

O OWK foi fundado por Patrícia de Gifford em 1 de Junho de 1996 e se baseia no princípio de que a Mulher é sempre, em qualquer lugar, e em tudo, superior ao homem.

O OWK é considerado uma verdadeira cidade governada por leis e regulamentos próprios, contendo a sua própria moeda, passaporte, policia penitenciária e justiça; tendo inclusive o direito de ter escravos reais.

Os homens são escravizados para cuidar dos jardins, cozinhar, limpezas domésticas e principalmente servir de diversão para Elas. O OWK fornece treinamentos de vários tipos, fazem encontros anuais com Dominadoras e seus escravos, comercializam vários filmes e recrutam homens para serem escravizados, com vários deveres, mas sem direito algum. E tudo isso é permitido legalmente pelo País que abriga o OWK.

Manual de como encontrar, treinar e educar um homem

O objetivo desse texto não é explicar como é a vida no OWK, mas sim trazer alguns pensamentos da fundadora e Rainha suprema do OWK chamada Patrícia de Gifford. Pretendo focar em como ela vê a superioridade feminina materializada no dia a dia, destruindo a fronteiras entre fantasia e realidade BDSM.

Através de pesquisas que fiz nos livros de Patrícia de Gifford tive acesso direto aos principais pensamentos desenvolvidos por ela, que se configura num verdadeiro manual de como encontrar, treinar e educar um homem; e com isso vem conseguindo silenciosamente propagar suas idéias pelo mundo afora. Semeando uma revolução silenciosa, gerando frutos, pois mesmo que a maioria dos mortais não consiga, nem queira atingir na prática suas revolucionárias idéias, Patrícia e o OWK servem para alimentar ainda mais as nossas fantasias.

Patrícia resume as suas idéias em algumas afirmações:

• Não mais limparei minha casa
• Não mais lavarei minhas roupas
• Não mais passarei meus vestidos
• Não mais ouvirei seus papos imbecis
• Sem mais abusos
• Não mais suplicarei por nada
• Não mais farei sexo sem vontade
• Não mais darei satisfação de onde eu vou e quando retornarei
• Não mais me esconderei com meus amantes, quando quiser tê-los.
• Não mais pedirei permissão para comprar nada
• Não mais terei problemas financeiros

Patrícia define como objetivo de seu treinamento, atingir três níveis de dominação, mas deixa claro que cada mulher tem que se decidir a que nível deseja chegar no treinamento de seu companheiro, dependendo do perfil de cada uma, e principalmente do perfil do seu parceiro. Nem todo homem consegue chegar ao segundo nível, muito menos ao terceiro. Segundo ela, é: “Totalmente sem sentido pensar que o treinamento poderá chegar facilmente ao último nível com um homem que falta ter em sua essência um masoquismo intrínseco... pode haver exceções, mas o esforço nesse caso é tão grande que deixa de ser interessante. Qualquer publicação baseada em escravidão total de um marido normal, sem a submissão inata, é pura ficção. Com um homem normal o limite é o nível 1, se conseguir chegar.”

Tipos de Masoquistas

Antes de prosseguirmos com os três níveis do treinamento, proposto por Patrícia de Gifford, pretendo esclarecer que masoquista para ela é um tipo de homem que se satisfaz sendo dominado por uma mulher, e que procura situações em que ele é humilhado e torturado pela Mulher. Mas existem várias categorias de masoquistas:

1) Masoquista Sonhador
É um homem com tendência intrínseca de submissão, mas limitado a desejos esporádicos e abstratos. Vive num mundo de fantasia, mas quando a realidade o atinge, pensa duas vezes e tenta fugir deste tipo de relação.

2) Masoquista Maníaco Sexual
É o homem que pensa que toda a sua submissão inicia e termina nos atos sexuais, desejando ser o dominante nos outros momentos da relação.

3) Masoquista Hedonista
O homem dessa categoria é influenciado por várias revistas e livros, que os fazem pensar que a dominação feminina sobre eles é limitada a torturas como pesos no saco, prendedores de mamilos, chicoteamento, amarração etc. Não tem idéia de que a dominação feminina envolve disciplina absoluta e trabalho árduo. Muitas vezes sentem desejo em buscar uma profissional do sexo pela facilidade e falta de compromisso na relação, satisfazendo seus desejos sem o compromisso com o vínculo e as práticas que envolvem a D/S.

4) Masoquista de 1 hora
É o tipo de homem que serve e obedece a mulher, mas sua devoção e total submissão se limitam ao tempo em que está excitado, com tesão. Quando gozam, sua tendência masoquista desaparece, pelo menos até o próximo momento de tesão.

5) Masoquista Natural
Esse é o tipo de masoquista mais adequado para passar pelo treinamento proposto por Patrícia. Esta categoria tem uma forte necessidade de ser escravizado por uma mulher e servi-la. Servir é a razão de sua existência e mais importante do que o seu próprio prazer sexual. Deseja se tornar um objeto, um pertence da mulher.


Definir esses tipos de masoquistas foi apenas uma forma de ilustração, sendo que existem em cada categoria níveis diferentes, podendo variar de intensidade. Um mesmo homem pode estar em mais de uma categoria.

Passemos agora aos três níveis de treinamento, proposto por Patrícia:

Nível 1 – Marido Dedicado

O marido dedicado é entendido como um homem tipicamente comandado pela mulher. Esse tipo de homem é obrigado a obedecer a sua mulher em tudo e seguir seu comando, podendo ser punido por ela através de xingamentos e tapas na cara. Este tipo de relação não é a típica relação Rainha x Escravo, pois nenhuma das partes tem interesse de seguir para este extremo. Portanto, atingir esta posição é uma pequena vitória para a mulher, já que assegura uma vida confortável e sem distúrbios para ela. Entretanto, seu conforto não se compara a atingida pelos níveis 2 ou 3.

Nível 2 – Marido Servo

O marido servo é uma criatura facilmente moldada que além de obedecer sua mulher é obrigado a realizar todas as suas fantasias. Entretanto há limites: evitar a humilhação pública e a quebra dos direitos humanos. Neste estágio de treinamento, o marido é punido pela sua Dona mais severamente, pelas suas pequenas falhas ou desobediência do que o do nível 1. Este nível pode ser atingido mesmo com um marido que não tenha uma natureza submissa explícita. Entretanto, para atingir isso, alguns treinamentos são necessários, principalmente o uso de chantagem, mas alguns limites nunca devem ser ultrapassados.

Nível 3 – Marido Escravo

O marido escravo é o produto supremo do casamento entre um homem submisso e uma mulher Dominadora. Se a mulher detectar um traço de masoquismo em seu marido deve imediatamente fazer todo o esforço para atingir este nível já que a total escravidão do homem é a situação mais benéfica para a mulher, segundo Patrícia.


Conclusão

Esse assunto está longe de se esgotar, pretendo no futuro detalhar cada um dos níveis acima, dar mais detalhes deles e algumas dicas de como atingir cada um. Meu objetivo maior neste texto foi mostrar que a separação entre realidade e fantasia no BDSM pode não ser tão óbvia como imaginávamos, não tão explícitas; e que existem pessoas que vivem o BDSM no seu dia a dia de forma plena. É importante compartilharmos idéias que nem sempre conferem com nossos anseios e fantasias, pois assim expandimos nossa consciência, nossa visão e entendimento de nós mesmos.


Bibliografia:

site:
http://www.owk.cz/index.htm

Livro:
The Training and Education of a Husband 1 - Patrícia de Gifford - Publicado por OWK

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"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

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