EU... Eu, eu mesmo... Eu, cheia de todos os cansaços, Quantos o mundo pode dar. — Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeita? Incógnita? Divina? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu... (Fernando Pessoa)

25 de março de 2007

INDIOS

Em uma de suas andanças pela Terra Santa,
Jesus encontrou um endemoniado e perguntou seu nome.
A resposta foi:
-Meu nome é Legião."

Arthur Dapieve

Índios

Quem me dera, ao menos uma vez,Ter de volta todo o ouro que entreguei, A quem conseguiu me convencer, Que era prova de amizade,Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. Quem me dera, ao menos uma vez, Esquecer que acreditei que era por brincadeira, Que se cortava sempre um pano-de-chão, De linho nobre e pura seda. Quem me dera, ao menos uma vez, Explicar o que ninguém consegue entender: Que o que aconteceu ainda está por vir, E o futuro não é mais como era antigamente. Quem me dera, ao menos uma vez, Provar que quem tem mais do que precisa ter, Quase sempre se convence que não tem o bastante, E fala demais, por não ter nada a dizer, Quem me dera, ao menos uma vez, Que o mais simples fosse visto como o mais importante, Mas nos deram espelhos,E vimos uma mundo doente. Quem me dera, ao menos uma vez, Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três, E esse mesmo Deus foi morto por vocês, É só maldade então, deixar um Deus tão triste. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho. Entenda - assim pude trazer você de volta para mim, Quando descobri que é sempre só você, Que me entende do início ao fim,E é só você que tem a cura do meu vício, De insistir nessa saudade que eu sinto, De tudo que eu ainda não vi. Quem me dera, ao menos uma vez, Acreditar por um instante em tudo que existe, E acreditar que o mundo é perfeito, E que todas as pessoas são felizes. Quem me dera, ao menos uma vez, Fazer com que o mundo saiba que seu nome, Está em tudo e mesmo assim, Ninguém lhe diz ao menos obrigado. Quem me dera, ao menos uma vez, Como a mais bela tribo, dos mais belos índios, Não ser atacado por ser inocente. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, Entenda - assim pude trazer você de volta para mim, Quando descobri que é sempre só você, Que me entende do início ao fim, E é só você que tem a cura do meu vício, De insistir nessa saudade que eu sinto, De tudo que eu ainda não vi. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente -Tentei chorar e não consegui.

LEGIÃO URBANA

21 de março de 2007

Quero ...eu te amo



Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida de meia em meia hora
de 5 em 5 minutosme digas:
Eu te amo.
Ouvindo-te dizer:
Eu te amo, creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior e no seguinte,como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo, inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummont de Andrade

Excelso Invento




Homem! Venceste a terra, o ar e o oceano;
Dominaste a água, o fogo, a luz, o vento,
Puseste asas no corpo: - o aeroplano;
Fizeste o rádio: - asas do pensamento.

Foste da ameba ao sol: de arcano a arcano,
Traçaste as leis do etéreo movimento,
Homem divino, ou semideus humano,
Corrigiste a Criação com o teu Invento!

Mas, ai das tuas invenções supernas!
Vivemos como os homens das cavernas,
De morte e roubo, corruções e engodos.

Quando farás com que da terra farta,
Tudo fraternalmente se reparta
E o que a terra produz seja de todos?

Bastos Tigre

20 de março de 2007

Exigo...


"Portanto exijo que meus defensores sejam metafísicos em vez de advogados e que o júri seja composto pelos poetas, pervertidos, vagabundos e gênios."
Oscar Wilde

ESPELHO MEU...


ESPELHO...
ESPELHO MEU...

“Haverá no mundo alguém mais feliz do que eu?“

Quem tenha maior alegria que essa
poder amanhecer e ver o mar
pisar a praia com cuidado
sentindo a carícia da areia
das ondas atrevidas e tão queridas?
Quem tenha sorrisos sempre guardados

para distribuir sem regatear
para quem busca ou não
mesmo que tenha triste o coração
e a alma chore em silêncio?
Quem acredite no impossível

não precise da vida, motivos
para ir em frente, lutando, querendo
mesmo que demore a chegar
e outros tentem atrapalhar?
Ah Espelho meu!...

O que você mostra contente
essa alma irreverente
nem sempre amada,
mas confiante...
essa mulher SOU EU!

17 de março de 2007

...


"Do que adianta ter essa alma colada aos ossos desses carne errada?
Sem os riscos a vida não vale nada".
Goethe

15 de março de 2007

Sublime


Castigo não é agressão
Dor não é incômodo
Dedicação não é obrigação
Severidade não é revoltante
Entrega não é anulação
Sadismo não é violência
Submissão não é subjugo
Domínio não é coação
Fantasia não é insanidade
BDSM não é condenável
É sublime.

Ly

"Pois o belo muda, o saber muda, a inteligência muda, a medida muda. Mas o desejo é inalterável."
Rubem Fonseca

14 de março de 2007

Dia Internacional da Mulher

MULHERES DE MARÇO


Às mulheres de todas
raças, de todos os credos,
primaveras
de uma nova sociedade,
donde o sol nascerá para
homens e mulheres,
sem distinção.


Olhe o sol como esta lindo,
A flor do horizonte,
Que desponta gloriosa,
O tempo que está florindo
E espelha nossa alma
Que desce das nuvens
Como um arco-íris.
- Volta amor, sou seu menino!
- Vem... serei o seu amado amante!
- Veremos tudo que é sorriso!
E não haverá mais do que chorar,
Somente chorar de amor,
Sentindo estrelas em nossos olhos,
E por todo nosso corpo a brilhar!
E, em infinito prazer, a mente,
Chegar ao astro mais elevado,
Como se tão linda estivesse,
Como lua que mergulha no mar,
Como assim ela também quisesse.
- Vem mulher, o sonho está surgindo!
E nossos desejos voarão
Como pássaros no paraíso!
- Vem querida, ao som dos Querubins,
Deixar voar com eles nosso coração!
Pelo mundo e por todo oceano pacífico!
Porque, amanhã tudo será possível!
O direito será de todos fiel amigo!
Então, desponta sua face!
Colhe a manhã que nasce silvestre,
Conquista o mundo, o Chile,
E nas milhares de noites que adormece,
Sonha como fazem os poetas,
Vendo o céu aqui na terra.
E assim, abraça a sua causa,
Parte para a insana batalha,
Movida por esse amor que te entontece,
“Pelo sol da liberdade”firme,
Com todas as luzes que são livres!
Então, por favor... não se esquece!
Do nosso ideal e de sermos felizes.

Salvador, 23/02/2006
Júlio
(Alterado em 06/03/07)

... dormindo minha alma


Magnificat
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
Alvaro de Campos

13 de março de 2007

Poema dos Dons


POEMA DOS DONS
Quero dar graças ao Divino
Labirinto dos efeitos e das causas
Pela diversidade das criaturas
Que formam este singular universo,
Pela razão, que não cessará de sonhar
Com um plano do labirinto,
Pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
Pelo amor que nos deixa ver os outros
Tal como os vê a divindade,
Pelo firme diamante e pela água solta,
Pela álgebra, palácio de precisos cristais,
Pelas místicas moedas de Ângelus Silesius,
Por Schopenhauer,
Que talvez tenha decifrado o universo,
Pelo fulgor do fogo
Que nenhum ser humano pode olhar sem um assombro antigo,
Pela carnaúba, o cedro e o sândalo,
Pelo pão e pelo sal,
Pelo mistério da rosa,
Que prodiga cor e que não a vê,
Por certas vésperas e dias de 1955,
Pelos rijos tropeiros que na planura
Arreiam os animais e a aurora,
Pelas manhãs de Montevidéu,
Pela arte da amizade,
Pelo último dia de Sócrates,
Pelas palavras que num crepúsculo foram ditas
De uma cruz a outra cruz,
Por aquele sonho do Islã que abarcou Mil noites e uma noite,
Por aquele outro sonho do inferno,
Da torre do fogo que purifica
E das estrelas gloriosas,
Por Swedenborg,
Que conversava com os anjos nas ruas de Londres,
Pelos rios secretos e imemoriais
Que convergem em mim,
Pelo idioma que, faz séculos, falei na Nortúmbria,
Pela espada e pela harpa dos saxões,
Pelo mar, que é um deserto resplandecente
E um número de coisas que não sabemos,
Pela música verbal da Inglaterra,
Pela música verbal da Alemanha,
Pelo ouro, que resplende nos versos,
Pelo épico inverno,
Pelo título de um livro que não li:
Gesta Dei per Francos,
Por Verlaine, inocente como os pássaros,
Pelo prisma de cristal e o pêndulo de bronze,
Pelas listras do tigre,
Pelas altas torres de São Francisco e da Ilha de Manhattan,
Pela manhã no Texas,
Por aquele sevilhano que redigiu a Epístola Moral
E cujo nome, como ele teria preferido, ignoramos,
Por Sêneca e Lucano, de Córdoba,
Que antes do espanhol escreveram
Toda a literatura espanhola,
Pelo jogo de xadrez, geométrico e bizarro,
Pela tartaruga de Zenão e o mapa de Royce,
Pelo cheiro medicinal dos eucaliptos,
Pela linguagem, que pode simular a sapiência,
Pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
Pelo hábito,
Que nos repete e confirma como um espelho,
Pela manhã, que nos depara a ilusão de um começo,
Pela noite, sua treva e sua astronomia,
Pela coragem e a felicidade dos outros,
Pela pátria, percebida nos jasmins
Ou numa espada velha,
Por Whitman e Francisco de Assis, que já escreveram o poema,
Pelo fato de que o poema é inesgotável
E se confunde com a soma das criaturas
E não chegará jamais ao último verso E varia como os homens,
Por Frances Haslam, que pediu perdão a seus filhos
Por morrer tão devagar,
Pelos minutos que precedem o sono,
Pelo sono e a morte,
Esses dois tesouros ocultos,
Pelos íntimos dons que não enumero,
Pela música, misteriosa forma do tempo.
Jorge Luis Borges

12 de março de 2007

Confidências


"Eu sempre ultrapasso os meus heróis e sempre abandono os meus amores. Mas essa ultrapassagem não é por mera competição, e esse abandono não é por pura maldade: eu ultrapasso meus heróis por uma questão de crescimento, e abandono meus amores simplesmente por amor. Não posso trair a minha própria Natureza. É a vida... "
Eduardo Nunes

11 de março de 2007

Tenho mais almas que uma...


"Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo ”

Fernando Pessoa

3 de março de 2007

Sou a estrela...

"Sou a estrela que surge do mar, do mar crepuscular, Trago aos homens os sonhos que regem seus destinos. Trago as marés lunares às almas dos homens, Os fluxos e refluxos repetidos das marés; Esses fluxos e refluxos alternados das máres; Esses são o meu segredo, esses pertencem a mim. Sou a Eterna Mulher, eu sou - As marés das almas de todos os homens me pertencem, Os fluxos e refluxos repetidos das marés; As secretas, silentes marés que governam o homem; Estes são os meus segredos, que pertencem a mim.
Das minhas mãos recebem ele o seu destino; O toque das minhas mãos trás serenidade - Essas são as marés lunares, essas me pertecem, Ísis no céu, na terra Perséfone, Diana na lua e Hécate, Ísis velada, Afrodite do mar.
Todas essas eu sou e elas são vistas em mim. A lua cheia brilha no meio do céu, Ouço as palavras de invocação, ouço e apareço - Shaddai el Chai e Rhea, Binah, Géia, Vim para o sacerdote que chamou por mim ".
Dion Fortune

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." Catetano Veloso

Musica em minha vida para tocar a tua!

"A vida:... uma aventura obscena de tão lúcida..." Hilda Hist

"És um dos deuses mais lindos...Tempo tempo tempo tempo..." Caetano Veloso

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo

"SOU METAL, RAIO, RELÂMPAGO E TROVÃO..." Renato Russo
RAINHA VICTORIA CATHARINA

"De seguir o viajante pousou no telhado, exausta, a lua." Yeda P. Bernis

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos" Fernando Veríssimo

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."